quarta-feira, 13 de maio de 2009


foto Assis Melo

LAMPADÁRIO

Minha mãe anda distante
meu pai a leva nos braços
avisto lençóis no espaço
os avós já vão mais longe

viajam todos num barco
levados por um ciclone
transitam vias sem nome
que desembocam no frio

onde estarão os antigos
antepassados , os tios,
as asas do irmão sombrio
tudo é poeira e palavra

haverá além do nada
um povoado abstrato?
já não me bastam retratos
se não me cabe o silêncio.

domingo, 3 de maio de 2009


DA NATUREZA

Para e escuta o som dos edifícios
que na calada hermértica da noite

crescem sem gritos sem alardes trágicos
mas desvagar avançam nos vazios

não como crescem os vegetais marinhos
nem as aéreas formas naturais

estas não crescem mais, nem arremessam
a circunspecta flor dos arvoredos

mira contudo a mínima riqueza
a que nos sobra entre os beirais do mundo

depois então contempla o céu de chumbo
que estremece e cospe natureza

atenta para os muros decididos
que sobem hirtos na precisão urgente

atenta para a vida simplesmente
encontrarás partidos os caminhos

encontrarás desfeitos os recantos
e diluídas todas as certezas

não acharás palavra para o espanto
tampouco o verbo fácil da beleza

contudo a concretagem fria
quer ser a absoluta engenharia

que a humanidade ávida engendra
em perfurar os tetos do planeta

como se fossem todas baionetas
as construções agudas e idênticas

qual avidez ascética e nociva
- imensidão de pedras sucessivas

a conclusão dos ciclos predatórios
virá então como virão as páginas

das profecias tensas inspiradas
- pois sobre o nada restará o mundo.