terça-feira, 25 de novembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A CARTA

Zarparam meus navios mar adentro
Levando minha carta sem palavras
Quando o dizer tudo é dizer nada
Poemas de horizontes reticências

Se posso discorrer a transparência
Já não me afogo em frases para tanto
E o que posto é uma folha em branco
Para dizer-te árvores sem flores

Não traço dores tampouco alegrias
Antes sorria agora sou um livro
Que abriga extensas pausas sem ruído
Quando o dizer mais é dizer findo.

RESENHAS { fragmentos }

" A poesia de Denise Emmer, sobretudo depois deste seu último volume Lampadário(Ed. 7letras), pode ser tida como um exemplo de obra que, mesmo antes do julgamento implacável do tempo histórico, irá se inscrever no cânone dos grandes poetas brasileiros"

Frederico Gomes
(Jornal do Commercio RJ)
TRIBUNA DA BAHIA

O LAMPADÁRIO DE DENISE
Ildásio Tavares

Em preconceito favorável, a tenho, não apenas por ser filha de um dos amigos que mais admirei e a quem outorguei o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade da Bahia, Alfredo de Freitas Dias Gomes. Sua atividade artística e literária mereceu minha atenção. O INSÓLITO FESTIM é um romance de muita densidade, mostrando a preocupação em agudizar as problemáticas existenciais a um nível de profundidade para delas extrair seu material de ficção - vertical é a palavra que vem ao me debruçar sobre a obra de Denise Emmer- . De grande relevo, sem dúvida, as melodias que ela criou para poemas de Ivan Junqueira, perfeita integração de linguagens.
De cara, LAMPADÁRIO atrai por seu ordenamento, tanto de idéia como de ritmo - Denise aceita o desafio do verso medido que esgrime com perícia, fato raro hoje em dia. Os poetas, ou fogem da métrica tradicional, ou estropiam-na num mal uso total. A poetisa tem claro domínio da métrica e escolhe os metros com adequação aos temas. Na genealogia do absurdo, é a redondilha com uma rima errática que a poetisa escolheu:

Minha mãe anda distante
Meu pai a leva nos braços
Avisto lençois no espaço
Os avós já vão mais longe

Em um traço conservador, Denise opta por maiuscular todo início de verso. Em um traço avançado, pontua erraticamente.
É de se destacar, todavia, a preferência que Denise mostra em todo seu livro por uma poética de pensamento. Ora perquirindo o cerne das coisas; ora repassando a vida de uma tênue ironia, esta autora parece seguir a trilha de Fernando Pessoa e dizer o que em mim sente está pensando - o agudo sentimento de existir jamais recebe dela uma capa de sentimentalisno piegas. Muito pelo contrário - e até se nota a influência denunciada de Dylan Thomas - a autora embola e enrola o material da vida que, muito apropriadamente, transforma em poesia pela alquimia da perfeita verbalização.

Vejo o Theatro sua platéia plena
As frisas, os balcões, o céu suas moradas
Um anjo me aguarda e sopra as partituras
Frases escuras de récitas lendárias

Nestes versos a poetisa denuncia logo sua intenção alegorizante ao transcrever theatro em grafia arcaizante. Avisa logo ao leitor que não fala de uma sala de espetáculos comum mas sim do espetáculo do mundo que se compraz em emoldurar para consumo imediato. No fundo é uma alegoria só, LAMPADÁRIO, tecida em seus mosaicos interiores.
Denise corta e recorta e dispõe para o leitor seu jogo de armar que, de muitas luzes compõe-se seu LAMPADÁRIO, no escuro do nosso tempo.

Ildásio Tavares é poeta, crítico e doutor em literatura.
..."O que distingue "Lampadário" no âmbito da poesia brasileira contemporânea - como um dos textos significativos nesta pluralidade de vozes - é esse equilibrio demonstrado desde o primeiro poema... [ ratifica o rigor da maturidade do fazer poético que tece a multiplicidade de uma escrita que ousa reatar o verbo e o que o verbo significa. Tem-se portanto a exatidão de versos límpidos que vertem uma escrita de sangue, em que se encaixa uma musicalidade encaixada no corpo da linguagem"...]

Nilo da Silva Lima
Prosa&Verso - O Globo



["No prefácio de seu quarto título, (A Equação da Noite Ed.Philoboblion 1985), eu manisfestava o desejo de que, com esse poemeto, Denise começasse a firmar o seu nome na história da nossa poesia. Hoje, mais de vinte anos e sete títulos depois, constatamos facilmente que aquele desejo já é uma realidade."]

Pedro Lyra
Caderno Ideias - Jornal do Brasil