segunda-feira, 22 de junho de 2009


NOITE MAGA

Andei contigo nas dunas
Nas páginas das areias
Pensei avistar sereias
Mas eram sóbrias escunas

E ao perguntar quem eras
O mar moveu seus navios
Olharam-me as éguas no cio
Voaram fêmeas sem sela

Enquanto me assombravas
Os sais trocavam segredos
Abraçava-me com medo
Torpor, o que me falavas

Então comecei morrer
Por tua mão de veludo
Que me levava entre surdos
No tênue amanhecer

Desmanches de beijo e vício
Aroma de folha e chuva
Teu sorriso atrás da curva
Na ponta do precipício

Longe vai a noite maga
Em seu palácio estranho
Não te decifro és sonho
A povoar minhas águas.

sábado, 6 de junho de 2009


PROSA CANORA
foto Assis Melo

Meus pensamentos nem sei
Vieram de estrelas tristes
Invento o que não existe
Para enganar minha alma

Invento a morte sem ossos
Escrevo auroras em lápides
Pastoro as águas da tarde
Para tecer mais um dia

Em minha roca sombria
Costuro uma blusa eterna
Colchas claras de lanterna
Para tecer mais um dia

Vou além da alta noite
Além das cruzes em quadras
Ausências extraviadas
Meu verso em ti amanhece.

VIOLONCELOS DA FLORESTA

Violoncelos da floresta
Tocam para o vazio
Sentados sobre as madeiras
De costas para o sombrio
Quem os aplaude: ninguém
O som que jamais se escuta
Ora tocam para o nada
Ora tocam para o nunca.