domingo, 3 de maio de 2009


DA NATUREZA

Para e escuta o som dos edifícios
que na calada hermértica da noite

crescem sem gritos sem alardes trágicos
mas desvagar avançam nos vazios

não como crescem os vegetais marinhos
nem as aéreas formas naturais

estas não crescem mais, nem arremessam
a circunspecta flor dos arvoredos

mira contudo a mínima riqueza
a que nos sobra entre os beirais do mundo

depois então contempla o céu de chumbo
que estremece e cospe natureza

atenta para os muros decididos
que sobem hirtos na precisão urgente

atenta para a vida simplesmente
encontrarás partidos os caminhos

encontrarás desfeitos os recantos
e diluídas todas as certezas

não acharás palavra para o espanto
tampouco o verbo fácil da beleza

contudo a concretagem fria
quer ser a absoluta engenharia

que a humanidade ávida engendra
em perfurar os tetos do planeta

como se fossem todas baionetas
as construções agudas e idênticas

qual avidez ascética e nociva
- imensidão de pedras sucessivas

a conclusão dos ciclos predatórios
virá então como virão as páginas

das profecias tensas inspiradas
- pois sobre o nada restará o mundo.

3 comentários:

Assis de Mello disse...

Trágico, mas exposto com tanta beleza e força imagética.
Um beijo, Fera Emmer !!!
Chico

CRÍTICA NACIONAL disse...

Esses versos têm a alma e a vida da própria natureza.
Somos seus fãs Denise

Toni Ferreira

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

"atenta para os muros decididos
que sobem hirtos na precisão urgente"
tanta saudade guardada nestes versos