quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Esculpe-me o mundo
Esculpe-me
Como se
A uma pedra
Cada vez
Mas ponta
E fria
Cada vez
Mais lança
E funda

Aponta-me o mundo
Aponta-me
Como se
A um lápis
Fino
Cada vez
Mais cego
E cínico
Como
A escrita
De um sangue.


É de notar-se, nesses versos curtos de cortes precisos, como o que os leva a ser curtos e o que determina os cortes violentos é a absoluta necessidade expressiva do poema, em sua riqueza metafórica e sonora, nunca o maneirismo de terminar versos em partes átonas da frase, sem função alguma, que dominou muito da poesia brasileira a partir da década de 1970.

Livro fundado sobre os temas primordiais _ o amor, a morte, o tempo, o sonho _, há, igualmente, uma disseminada presença da natureza em Lampadário, com destaque para a celeste e ainda mais para a marinha, o que nos faz aproximar a autora das já lembradas Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner. A estesia dos poemas de Denise Emmer brota sempre da musicalidade intrínseca _ e falamos de uma poeta que é também música _, não a musicalidade fácil dos ritmos cantantes, mas aquela outra, estrutural e estruturadora, imponderável, inexplicável, que separa a poesia dos outros gêneros literários. Essa região de mistério _ causa de tradicional horror ao fetichismo da objetividade que domina boa parte da alma nacional _ é o sanctus sanctorum do fenômeno poético, onde só os poetas, não os versejadores, penetram, e de onde nos trouxe a autora os poemas que aqui se encontram.

Alexei Bueno

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