quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Em versos centrados no ritmo da redondilha maior, a autora delineia metáforas de grande expressividade, com as quais, de forma negativa, expressa a vacuidade da nossa finitude: “ciclone”, “lençóis”, “ruas sem nome”, são imagens que esboçam , pela concretude de suas imagens, a abstração do nada. A redondilha, num símile à palavra ciclone, gira, vertiginosamente as palavras, num sorvedouro de ausências. Todo esse fluxo encerra-se, de forma lapidar, nos exemplares versos finais, contundentes, agudos, a funcionarem como um clímax, um fecho de ouro: “Já não me bastam retratos/ Se não me cabe o silêncio”. Também a partir da temática da morte, a autora talhou um dos poemas de grande perfeição de seu livro, o comovente “Mulheres que enterram filhos”:

Mulheres que enterram filhos
Invertem o curso dos rios

Deságuam o mar em regatos
Antecedem o fim do ato

Tratados de sóis contrários
O trovão antes do raio

São estrelas que se afundam
Big-Bang depois do mundo

Maçãs retornando à árvore
Tropeços da gravidade

Vulcões de tempero frio
Horizontes em desvio

Avesso do negativo
Padecer sem ter nascido

- Mulheres que enterram filhos –

Se alvo de velhas vingas
Se pacto de suicidas

Instauram o não previsto
E deixam pequenos cristos.

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