quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pela centralidade desse tema, Lampadário se afasta completamente de toda a vertente lúdica, piadista, escamoteadora da morte que se implantou na poesia brasileira, com notável sobrevivência, a partir do compreensível trabalho de solapamento do primeiro Modernismo, para atingir seu ápice no banimento de todo pathos e de toda angústia patrocinado pelas vanguardas da década de 1950 e nesse fenômeno sociológico, não estético, que foi batizado como poesia marginal. A negação da questão morte _ fonte incontornável da filosofia, da arte e do pensamento religioso _ é, diga-se de passagem, apanágio de alguns específicos tipos humanos, os covardes, os idiotas, os frívolos, ou a mistura de todos eles. Ou, como diria Guimarães Rosa, tipos muito “incompletos”. Tal tema, nos poema do presente livro, não se resume, aliás, à figura do homem. Como escreveu Drummond, em seu magistral “Morte das casas de Ouro Preto”:


Não basta ver morte de homem
para conhecê-la bem.
Mil mortes brotam em nós,
à nossa roda, no chão.
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Da mesma maneira, Denise Emmer, partindo da morte geral do poema-título acima mencionado, passa pela morte do amigo, em “A pedra sem nome”, para chegar aos extremos da morte do pai, no poderoso “O amanhecer da terra”, e do desaparecimento de um simples animal, um gato, em “Fecho teus olhos”. De fato, aquilo que muitos denominaram o “escândalo da morte” não se limita absolutamente ao ser humano. Demasiadamente humano, no entanto, é o tema do impressionante “Mulheres que enterram filhos”, dos mais metaforicamente ricos do livro, tratando do que podemos chamar de morte em ordem inversa. “Muitos perdi me ensinaram”, disse Carlos Drummond de Andrade no poema citado. É esse verbo no passado, esse “perdi”, que se revela, sem dúvida, uma das formas de abrasão, de erosão, que agem sobre o eu lírico no extraordinário poema que fecha o livro, “Escultura”, com um tema que, no fundo, é o mesmo do pessimista “No alto”, do Machado de Assis de Ocidentais:

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